Em alto e bom gol, ou melhor, em alto e bom som

12 de outubro de 2005. Quarta-feira. Estádio Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, popularmente conhecido como Estádio do Canindé. Momento único na vida da Portuguesa, um dos clubes mais queridos de São Paulo.

Não, não era jogo da Lusa. Neste dia estiveram em campo Scorpions, Nightwish, Destruction (no lugar do Testament), Shaman, Rage, Dr. Sin, The 69 Eyes e Tuatha de Danann. Foram 10 horas de muito rock n roll. Era o festival Live N' Louder, que aconteceu novamente no ano seguinte, mas não no mesmo local.

Um dos destaques do evento, a banda finlandesa Nightwish, proporcionou um momento único para seus fãs e para a história do estádio da Lusa. Foi a antepenúltima apresentação com a vocalista Tarja Turunen, que logo depois saiu do grupo e iniciou sua carreira solo.

E mais uma vez os deuses do futebol e do metal uniram-se e transformaram um Templo do Futebol em Olimpo do Rock, e em alto e bom gol, ou melhor, em alto e bom som!!!

Templo do Futebol e Olimpo do Rock

Estádio Paulo Machado de Carvalho, popularmente conhecido como estádio do Pacaembu, inaugurado no dia 27 de abril de 1940. Já teve a chancela de ser o maior e mais moderno estádio da América do Sul, com capacidade para 70 mil torcedores. Foi batizado com este nome em homenagem a pessoa que foi chefe da delegação brasileira de futebol na Copa de 1958, disputada na Suécia.

Palco de apresentações memorávies e inesquecíveis do Santos de Pelé, do Palmeiras de Ademir da Guia, do São Paulo de Pedro Rocha, do Corinthians de Rivelino e da Portuguesa de Enéas. Gols e mais gols aconteceram, jogadas fantásticas e dribles desconcertantes foram executados no gramado do Pacaembu, mas no meio da década de 90 os deuses do futebol e do rock uniram-se para proporcionar o espétaculo da música no templo do futebol.

Em 3 oportunidades (1994, 1995 e 1996), o estádio tornou-se a casa do festival Monsters of Rock. Bandas renomadas e importantes, nacionais e internacionais tocaram para um público vibrante e empolgado. Angra, Dr. Sin e Raimundos. Black Sabbath, Helloween, Kiss, Iron Maiden, Megadeth, Motörhead e Ozzy Osbourne. Estes e outros grupos fizeram ecoar nas arquibancadas não o grito de gol, mas refrões de músicas que hoje são clássicos do rok n roll.

Desta vez os deuses capricharam e tornaram o Templo do Futebol no Olimpo do Rock.

Torcida do Galö é Metal

E tudo começou em uma mesa de bar, por volta de 1995. Alunos do Colégio Estadual Central, de Belo Horizonte, tinham o costume de se reunir no extinto bar Opção para discutir sobre diversos temas, entre eles o futebol e o rock n roll.

Em uma dessas reuniões, regadas a muita bebida e embalada ao som de AC/DC, Marcelo "Tripa", então com 21 anos, teve a idéia de criar uma torcida organizada para o Clube Atlético Mineiro. Uma torcida diferente das outras, que fosse a representação do estilo de vida rock n roll no futebol.

No inicio a resistência dos torcedores mais antigos e tradicionais do Galo foi grande. A vanguarda Atleticana não gostou muito da idéia. Porém, com o passar do tempo a Galö Metal começou a ganhar adeptos no meio universitário, depois pelas ruas de BH e até conquistou fãs fora do Brasil.

A data oficial de fundação da torcida organizada é 18 de dezembro de 1995, quando o estatuto foi registrado em cartório. Um dos seus símbolos é a famosa caveira estampada nas capas dos álbuns da banda de heavy metal Motörhead.

Mais uma vez os deuses do futebol e do rock trabalharam juntos, e a união resultou em belos espetáculos nas arquibancadas dos estádios. A torcida do Galö é Metal.

Pai de família, trabalhador, fanático por futebol = Brasileiro

Andreas Rudolf Kisser. Nasceu em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, no dia 24 de agosto de 1968. Casado e pai de 3 filhos. Trabalhador. Torcedor fanático do São Paulo Futebol Clube. É a imagem de um verdadeiro brasileiro.

É guitarrista da banda de heavy metal Sepultura, desde a sua fundação em 1984 até hoje. Quem pensa que tocar em uma banda de rock não é trabalho está enganado. São meses dentro de um estúdio, compondo e gravando. São meses em cima de palcos pelo mundo afora, fazendo turnê e divulgando o trabalho. Pode não parecer mas é sacrificante ficar tanto tempo fora do seu país e longe da sua família.

Andreas Kisser, como a grande maioria dos trabalhadores brasileiros tem como principal lazer o futebol. Apaixonado pelo esporte mais popular do mundo desde criança sempre demonstrou o seu amor pelo São Paulo. Sempre que pode vai aos jogos, e vestindo a camisa do Tricolor Paulista. Diversas vezes deu entrevistas e até em alguns shows com o Sepultura usou o manto tricolor . Mais uma vez os deuses da bola e do metal uniram-se.

Futebol & Metal = Paixão = União Familiar

Max e Iggor Cavalera são, talvez, os irmãos mais conhecidos na cena do heavy metal mundial. Fundaram em 1984, na cidade mineira de Belo Horizonte, o Sepultura, banda da qual não fazem mais parte. O primeiro a deixar a banda foi Max. Anos depois foi Iggor quem saiu. Os irmãos ficaram por anos sem se falar. Atualmente estão juntos de novo. Tocam na banda Cavalera Conspiracy. Max detonando nas guitarras e nos vocais, e Iggor arrebentando na bateria.

Mas, os irmãos Cavalera tem muito mais em comum do que o gosto pela música. Ambos são fanáticos torcedores do Palmeiras. Iggor mais até que Max. E se pararmos para analisar o nome da banda que fundaram em Minas tem a ver com seu time de coração. SEPultura (Sociedade Esportiva Palmeiras). Pode até ser um devaneio, mas essa leitura pode ser feita.

Com toda certeza você já viu pelos campos de futebol as camisas 3 do Vasco e da Portuguesa, por exemplo, com a estampa Cavalera Penalty. Sim, estas camisas foram desenvolvidas pela empresa de Iggor em parceria com a empresa de materiais esportivos. A grife Cavalera foi lançada em 1995, numa sociedade entre o baterista e o então deputado estadual Alberto Hiar, o Turco Loco.

E de novo os deuses do metal e do futebol uniram-se! Mais uma vez, nós meros e simples mortais agradecemos!

Steve Harris: Dos campos para os palcos

Stephen Percy Harris nasceu no dia 12 de março de 1956, em Londres, na Inglaterra. Aos 10 anos de idade, em 1966, foi pela 1ª vez a um jogo de futebol. No estádio Upton Park viu o West Ham United, seu time, vencer o Newcastle, por 4 a 3.

Depois disso resolveu que seria jogador de futebol. Entrou para as categorias de base dos Hammers e quase tornou-se profissional, não fosse a dura rotina de treinos e algumas outras dificuldades. Mas, jamais deixou de torcer pela equipe londrina. Continuou fanático pelo time.

Na década de 70, aos 17 anos teve seu primeiro baixo e fundou a banda Iron Maiden, uma das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos. Tirou a idéia do nome assistindo ao filme O Homem da Máscara de Ferro, baseado na obra de Alexandre Dumas.

Steve Harris sempre teve em seus instrumentos o distintivo do seu time de coração, mesmo quando o time está mal, como este ano, em que foi rebaixado para a 2ª divisão do futebol inglês.

Mais uma vez os deuses do futebol e do rock se uniram! E nós, simples e meros mortais, adoradores do esporte mais popular do mundo e da boa música os louvamos e agradecemos.

Confesso que passei a gostar e torcer pelos Hammers devido ao Iron Maiden de Steve Harris.

Mais um louco para o bando

Em abril deste ano a banda irlandensa U2 esteve em São Paulo com a turnê 360. Foram 3 shows na capital paulista. Bono Vox, vocalista e líder do grupo sempre esteve engajado em projetos sociais e humanitários pelo mundo, tendo sido recebido por presidentes de diversas nações, como por exemplo, por Dilma nesta passagem pelo Brasil.

Um dos shows do grupo de rock aconteceu na quarta-feira, 13/04, e Ronaldo, ex-jogador do Corinthians e maior artilheiro de todas as copas com 15 gols esteve nos bastidores. Deu a Bono uma camisa do Timão e desfez o mistério que havia criado 1 dia antes. Desde a manhã de terça-feira ele postava em seu twitter que estava tentando trazer mais um louco para o bando. Duas horas depois de escrever que tinha dado certo, o Fenômeno colocou a foto dele ao lado de Vox segurando a camisa do Corinthians.

Outra vez os deuses uniram o futebol e o rock n roll, e agora no estádio do Morumbi, onde o show foi realizado. Aliás, outra relação entre o esporte e música dos deuses está na utilização dos estádios de futebol para os shows, mas isto é assunto para um próximo post.

Futebol, Mulher & Rock N Roll

Fundada em 1991 por Eduardo Ardanuy e pelos irmãos Ivan e Andria Busic a banda paulista de heavy Metal Dr. Sin completa 20 anos de carreira em 2011. Ao longo da carreira o trio dividiu o palco com Black Sabbath, Slayer e Kiss, na 1ª edição do Monsters of Rock no Brasil. Tocaram também na mesma noite que o Nirvana, no Hollywood Rock Festival de 1993. Abriram shows para AC/DC e Pantera, entre outras.

Neste tempo de estrada gravaram 8 álbuns de estúdio, 3 ábluns ao vivo e diversos clipes. Em 1998 o 3º trabalho, entitulado Insinity é lançado com 15 músicas. A última faixa chamada Futebol, Mulher & Rock N Roll chega rapidamente ao topo da lista nas rádios e ganha um clipe, que conta com a participação especial do narrador esportivo Silvio Luiz.

"Futebol, Mulher & Rock N Roll, meu deus como isso é bom", só não é um refrão perfeito porque faltou incluir a cerveja. A música é um verdadeiro "hino". Valeu Dr. Sin.

Mais uma vez os deuses do futebol e do rock agradecem!

Ozzy Osbourne: "Imortal"

No último dia 30 de março Ozzy Osbourne, o "Príncipe das Trevas", abriu a série de 5 shows que fez no Brasil tocando no ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre. Casa do Internacional, o ginásio estava lotado, e Ozzy provou que mesmo aos 62 anos ainda é um dos maiores representantes do heavy metal em cima dos palcos.

Antes do show Ozzy foi presenteado pela diretoria do Inter com uma camiseta estampada com seu nome nas costas, mas ele entrou com uma bandeira do Grêmio, o maior rival do Inter, no palco. A atitude gerou reações. Osbourne foi vaiado pelos torcedores do Colorado e aplaudido pelos torcedores do Tricolor.

Durante o show um torcedor do Internacional ainda jogou no palco uma bandeira do time da casa, mas Ozzy nem deu bola. Resta saber o que o "Príncipe das Trevas" fará com a camisa do Colorado que ganhou.

Ozzy Osbourne: "Imortal".

Alexi "The Rock" Lalas

Quem não se lembra daquele camisa 22, zagueiro da seleção norte-americana na Copa de 1994? Vasta cabeleira ruiva. Cavanhaque, também ruivo, no melhor estilo bode. Fisionomia um tanto parecida com Raul Seixas. Mas, com um futebol de alta qualidade. Após a Copa foi jogar na Itália, pelo Padova, ainda em 1994. Foi o 1º jogador americano a atuar na terra da tarantella. Jogou na velha bota até 1996. Depois voltou para os Estados Unidos e jogou pelas seguintes equipes: New England Revolutions, Metrostars, Kansas City Wizards e Los Angeles Galaxy, onde encerrou a carreira de jogador em 2003. Em 2006 foi nomeado presidente do time de Los Angeles e permanece no cargo até hoje.
Jogando futebol conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan Americanos de 1991, em Havana, Cuba. Foi também campeão da U.S. Open Cup em 2001, e da MLS (Major League Soccer), em 2002, ambos pelo Los Angeles Galaxy, além de ser indicado para a seleção da MLS de todos os tempos.
Mas, nem só no futebol Lalas possui fãs. Sua fama ultrapassa os limites das 4 linhas. Vocalista e guitarrista da banda Gypsies, gravou 2 álbuns com o grupo. Depois resolveu seguir carreira solo e já lançou 4 trabalhos. O mais recente entitulado So It Goes In September, lançado em 2010.
Panayotis Alexander Lalas, nascido em 1º de Junho de 1970, na cidade de Birmigham, Michingam. Filho de pai grego e mãe americana. Mais uma vez os deuses do futebol e do rock agradecem. Thanks Lalas!!! Eukaristó Lalas!!!

Caravela de Aço

Fundado em 21 de agosto de 1898 por um grupo de remadores, o Club de Regatas Vasco da Gama é uma homenagem ao navegador português de mesmo nome. Campeão Sul Americano de 1948, da Libertadores da América de 1998 e da Copa Mercosul de 2000. 4 vezes Campeão Brasileiro da Série A, 1 vez Campeão Brasileiro da Série B e recentemente Campeão da Copa do Brasil pela 1ª vez. Diversas vezes campeão estadual e reginoal.
Mas, não é só dentro do campo que o Vasco chama a atenção. Nas arquibancadas, principalmente de São Januário e do Maracanã, quem atrai os olhares é a Força Jovem, com suas bandeiras e bandeirões.
Utilizando Eddie, o mascote da famosa banda inglesa de heavy metal Iron Maiden, a torcida organizada vascaína é um dos representantes da família rock n roll no futebol.
A Força Jovem adotou o mascote por volta de 1987, estampando a figura de Eddie da capa do aclamado álbum The Number Of The Beast. A partir daí a iniciativa tornou-se um sucesso e mais bandeiras e bandeirões foram confeccionados com a imagem da caveira mais famosa do mundo.
Na final da Copa Havelange de 2000, disputada em 2001, entre Vasco x São Caetano no Marcanã, Steve Harris (baixista e fundador da banda), e Janick Gers (guitarrista) estiveram presentes ao templo sagrado do futebol e presenciaram a bela festa feita pela Força Jovem. O reconhecimento da torcida para a banda estava definitivamente decretado. O grupo inglês estava na capital carioca para paticipar do festival Rock N Rio daquele ano.
Eddie: dos palcos para as arquibancadas. Os deuses do futebol e do metal uniram-se proporcionando um verdadeiro espetáculo. E a Caravela de Aço segue navegando e conquistando novos campos pelo mundo afora.

AC DC (Antes de Ceni / Depois de Ceni)

27 de março de 2011. 16ª rodada do Campeonato Paulista. Arena Barueri. São Paulo x Corinthians. Falta na entrada da área do Timão. Rogério Ceni atravessa o campo. Pega a bola. Ajeita-a com muita calma e cuidado. Aguarda autorização do árbitro. Escuta o som do apito. Apreensão nas arquibancadas. Ceni corre para a bola. Chuta sem chances para o goleiro adversário fazer a defesa. Gol. É o 100º gol de sua carreira como goleiro. Marca que jamais muitos atacantes alcançarão. Jogadores do Tricolor do Morumbi correm para abraçá-lo. Repórteres previlegiados e os árbitros assistem tudo ali, praticamente com a mesma visão de Rogério, dentro do campo. Ao terminar o jogo o Fantástico presenteia o maior goleiro da história do futebol brasileiro, e talvez mundial, com uma música. Sem hesitar Ceni pede You Shook All Night Long, da banda australiana AC DC. Momento único. Dois mitos juntos: o do futebol e o do rock! Os deuses do futebol agradecem! Os deuses do rock agradecem! AC DC = Antes de Ceni/ Depois de Ceni.

"República Futebolística do Brasil"

Brasil: "O país do futebol". Essa frase é mundialmente conhecida, e muitos brasileiros orgulham-se disso, mesmo que ultimamente a seleção não ande tão bem das pernas. Nas últimas 2 Copas do Mundo (2006 na Alemanha e 2010 na África do Sul), e principalmente nos últimos amistosos o futebol apresentado e os resultados obtidos são questionáveis e bem abaixo do esperado.
Ainda assim, o futebol acaba sendo o fator de identificação com a nacionalidade mais utilizado pelos brasileiros, e o produto nacional mais admirado pelos estrangeiros. No último dia 29 de janeiro a banda suiça de celtic folk metal, Eluveitie, esteve em São Paulo com a turnê do seu trabalho mais recente, entitulado Everything Remais As It Never Was. Presenteado pelo fã clube paulista, o músico Patrick "Päde" Kistler subiu ao palco vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol.
É, o Brasil anda melhor nos palcos do que nos campos!!!